O procedimento, regido pela ABNT NBR 6484, pode ser realizado em qualquer tipo de obra como forma de definir o tipo de fundação

Primeira etapa do processo construtivo, a sondagem do solo é procedimento técnico vital em qualquer tipo de obra. Dependendo dos resultados obtidos com o estudo, o projeto pode até ser financeiramente inviabilizado. “Do ponto de vista técnico, sempre há alternativas para contornar possíveis problemas localizados pela sondagem, entretanto, o custo das ações é elevado, e o investimento pode não compensar para determinados empreendimentos”, afirma o engenheiro Artur Quaresma, tesoureiro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS).

Com a sondagem do solo, é possível conhecer as características do terreno, como a espessura das camadas que o compõe, sua resistência e a provável localização do lençol freático, caso exista. “A análise pode ser comparada com uma radiografia médica”, diz o engenheiro.

É com base nesse levantamento que os tipos de fundação são definidos. Se o projetista não tiver conhecimento sobre o que existe no subsolo, é grande a possibilidade de a fundação ou mesmo a estrutura da edificação ter seu dimensionamento calculado de maneira errada.

Técnicas

Regida pela norma ABNT NBR 6484, a sondagem à percussão com ensaio SPT (Standard Penetration Test) – para simples reconhecimento – é a alternativa mais utilizada para investigação de solos no Brasil. O ensaio é executado enterrando um amostrador padrão no terreno, através do uso de martelo. Para cada metro de profundidade que o equipamento atinge, é informada qual a resistência da camada de subsolo.

Se durante o processo forem encontrados pedaços de rochas, torna-se necessário realizar outro tipo de ensaio, a sondagem rotativa. Para esse trabalho, utiliza-se uma coroa de diamante na ponta da tubulação para perfurar as pedras e permitir a passagem dos equipamentos. Esse teste permite determinar apenas a qualidade de rocha. Para conhecer a resistência do minério, uma amostra deve ser retirada e enviada para verificação em laboratório.

A sondagem rotativa é também indicada para determinar a extensão do elemento rochoso. No subsolo, existem grandes bolas de pedra chamadas de matacão. O ensaio é capaz de indicar se a concentração mineral encontrada é esse tipo de formação geológica ou se realmente foi atingida uma espessa camada de rochas.

Há outros ensaios complementares que podem detalhar ainda mais as características do solo, determinando, por exemplo, a exata resistência do terreno. “Entre as análises extras estão o ensaio de penetração de cone (CPT) e o ensaio com dilatômetro de Marchetti (DMT)”, informa Quaresma.

Evitando falhas

O não cumprimento da ABNT NBR 6484 é a causa mais comum de problemas na sondagem de solo. “Equipamentos mal conservados e operadores não treinados também têm potencial de tornar nula uma campanha de sondagens”, alerta.

Os erros começam a ser evitados no momento de contratar a empresa responsável pela execução do trabalho. Escolher somente pelo menor preço nunca é uma boa alternativa. O ideal é visitar canteiros onde a empresa atua e verificar se os métodos de trabalho apresentados pela equipe são compatíveis com o que exige a norma técnica.

Outra falha comum tem relação com equívocos no momento de determinar a cota topográfica da boca do furo de sondagem. Todas as medidas de profundidade têm como referência essa informação e, se o dado estiver errado, poderá resultar em consequências negativas para toda a obra, como necessidade de reforço na fundação e estrutura, atrasos no cronograma, recalques e rupturas. “A cota da boca do furo deve ser determinada a partir de um levantamento topográfico do terreno e obra. Essa ação é fundamental”, ensina Quaresma.

É recomendável que seja realizado mais do que um furo para análise, principalmente em terrenos de extensões maiores. O estudo realizado a partir de buraco único pode gerar informações imprecisas. “A quantidade mínima recomendada depende do tamanho da área a ser estudada. Quanto mais informações forem colhidas, maiores serão os planos de interpretação”, fala o engenheiro. Os pontos devem ter, no máximo, espaços de 25 m de distância entre si. Além disso, têm de estar posicionados em áreas exatas do terreno e no mesmo nível da edificação.

Correções

Depois que a obra já começou a ser executada, ainda é possível remediar problemas na fundação causados por falhas de sondagem do solo. Porém, essa correção exige um investimento bastante significativo. Para as construtoras, é mais interessante encaminhar parte de sua verba para uma sondagem bem-feita do que ter que gastar quantias muito maiores no futuro. “Dar à sondagem a importância necessária resulta em economia e prevenção de acidentes, além de proporcionar conforto e estabilidade à edificação”, conclui Quaresma.